Não é exagero dizer que o Toyotismo é um divisor de águas não só para a indústria automotiva, mas para a humanidade.
Isso porque ele veio para romper com o paradigma até então vigente no segmento industrial, em que o objetivo era a máxima produção.
Acontece que essa premissa trazia consigo um risco: o encalhe de produtos em estoque por falta de compradores.
Já dá para imaginar como seriam as coisas se as indústrias de transformação ainda pensassem assim, certo?
Em razão da sua enorme importância, o conceito toyotista de produzir é até hoje estudado e aplicado em diferentes empresas, inclusive não industriais.
Sua influência é tanta que, inspirado nesse modelo, surgiram outras metodologias, como a Lean Manufacturing (Produção Enxuta), que por sua vez é a base para outros métodos.
Como se vê, o modelo da Toyota é matéria obrigatória para todos que trabalham ou pretendem se inserir no mercado, principalmente na indústria de transformação.
Avance na leitura e conheça detalhes!
O que é Toyotismo?
O Toyotismo, que também é chamado de acumulação flexível, é um modelo de produção originalmente desenvolvido para a indústria automotiva.
Ele toma como referência outro método internacionalmente consagrado, o Fordismo, mas adaptado à realidade de mercados menores.
Afinal, o modelo de produção fordista defende a máxima capacidade de produção, visando suprir demandas elevadas.
Mas o que fazer quando essa demanda é reduzida ou o mercado é pequeno demais para absorver uma grande oferta de produtos?
É para responder a esse tipo de desafio que o Toyotismo foi criado, afinal, nem todos os países contam com um mercado ávido por consumir como o dos Estados Unidos, onde o Fordismo prosperou.
Porém, o sistema da Toyota não defende a racionalização da produção apenas por ideologia.
Tudo partiu de uma necessidade real, como vamos ver a seguir.
Quando surgiu o Toyotismo?
Na década de 1950, o Japão ainda buscava se reerguer dos imensos estragos causados pela Segunda Guerra Mundial.
Foi nessa época que o engenheiro e industrial Eiji Toyoda, em visita aos Estados Unidos, viria a entender mais a fundo como funcionavam as linhas de produção norte-americanas.
Uma das primeiras conclusões a que ele chegaria era de que, para o Japão, seria impossível produzir daquele modo.
De qualquer forma, importantes lições foram aprendidas e, com o tempo, o modelo estadunidense viria a ser replicado no Japão com as devidas adaptações.
Afinal, era preciso considerar que o mercado japonês, infinitamente menor e com um parque industrial muito menos competitivo, não podia esbanjar recursos.
Mas o Toyotismo como conhecemos hoje ainda não nasceria nos anos 1950.
Na verdade, ele só viria a despontar para o mundo nos anos 70, graças à participação daquele que é considerado seu verdadeiro criador.
Quem criou o Toyotismo?
As ideias de Eiji Toyoda viriam a encontrar respaldo na Toyota, onde o engenheiro chinês Taiichi Ohno (um dos gurus da qualidade) exercia o cargo de diretor desde 1954.
Ohno é considerado o pai do Toyotismo porque ele é o responsável pela parceria que viabilizou o intercâmbio de ideias entre nipônicos e americanos.
Para tanto, dois nomes foram fundamentais: Edward Deming, responsável por implementar no Japão o Controle Estatístico de Processo (CEP) e Shigeo Shingo, consultor de qualidade da Toyota.
Com a parceria de Toyoda, eles viriam a desenvolver as bases de um novo modelo de produção, mais racionalizado e puxado pela demanda.
Nesse aspecto, o Toyotismo se opõe ao Fordismo, já que ele se baseia não na capacidade produtiva, mas no mercado, para definir quanto produzir.
Quais são as principais características do Toyotismo?
Enquanto conceito, o Toyotismo toma como bases dois princípios.
Um deles é o Kaizen, pelo qual a empresa conduz suas atividades sempre objetivando a melhoria contínua dos seus processos.
O outro, Genchi Genbutsu (localização real) defende que, para que uma situação seja realmente compreendida, é preciso tomar conhecimento dela in loco, ou seja, no lugar e na hora em que acontecem.
Por outro lado, produzir conforme a demanda do mercado é um desafio e tanto, já que é preciso ser milimétrico para não sobrecarregar as linhas de produção.
É nesse ponto que surge um terceiro conceito, o de Just in Time, em que a indústria usa somente os insumos necessários para produzir e nada mais.
Dessa forma, economizam-se recursos valiosos para que a empresa continue investindo em melhorias, conforme os princípios Kaizen.
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Vantagens do modo de produção toyotista
Embora desafiador, o modelo toyotista traz diversas vantagens competitivas quando corretamente implementado.
A principal delas, como vimos, é a racionalização da produção, o que é bom também para o próprio meio ambiente, já que, com isso, menos insumos e matérias primas são utilizados.
Imagine, por exemplo, que uma fábrica que segue o modelo fordista precisa de mil toneladas de aço para produzir 500 veículos em um mês.
Depois de um processo de avaliação, seus gestores descobrem que a demanda do mercado só absorve, em média, a metade dessa produção.
Dessa forma, a empresa pode deixar de gastar boa parte dos seus recursos comprando matéria-prima que, no final, vai dar origem a produtos sem saída.
Por essa razão, o Toyotismo apresenta como vantagem número 1 a otimização do uso que se faz dos insumos, como veremos na sequência.
Redução do desperdício
A grande sacada dos engenheiros Eiji Toyoda e Taiichi Ohno foi perceber que o Japão não podia simplesmente copiar o que se fazia nos Estados Unidos.
Por outro lado, o modelo norte-americano tinha pontos positivos e podia ser um caminho para o país sair da crise no período pós-guerra.
Considerando essa realidade, em que os recursos eram bem mais escassos, a mão de obra reduzida e pouco qualificada, é que o Toyotismo partiu para definir um novo modo de produção.
Nele, todos os recursos devem ser aproveitados ao máximo e o desperdício é um mal a ser combatido.
Dessa forma, a Toyota economizava na hora de adquirir os insumos necessários, sem deixar de atender às demandas do mercado.
Requalificação da mão de obra
Como vimos, um dos princípios do Toyotismo é a filosofia Kaizen de melhoria contínua.
Mas porque se preocupar em melhorar quando os resultados já estão bons?
Essa foi outra sacada de mestre que os criadores do Toyotismo tiveram: eles entenderam rapidamente que um mercado não é estático.
Há períodos de maior ou menor demanda e que, sendo assim, exigem ajustes na forma de produzir.
Isso sem contar que, em um segmento no qual a aplicação da tecnologia é crescente, é natural que haja uma concorrência feroz e sempre em movimento.
Portanto, ficar parado é o primeiro passo para o declínio, por melhor que esteja a performance de uma empresa no momento.
Isso eleva a necessidade de aperfeiçoar a mão de obra que, em razão da melhoria contínua, precisa ser constantemente requalificada.
Otimização do uso da força de trabalho
Além de poupar recursos e insumos, a racionalização da produção induzida pelo Toyotismo leva à diminuição da demanda por trabalhadores.
Veja o exemplo anterior, da linha de produção que corta pela metade a sua produção em razão da demanda.
Claro que, com isso, automaticamente, o emprego de mão de obra passará a ser menor.
Nesse ponto, você pode até questionar “mas a indústria não pode criar uma demanda, como fazem boa parte das empresas por meio do marketing”?
Sempre pode, mas note que isso também gera um custo extra, afinal, fazer um marketing mais agressivo também demanda recursos.
Além disso, mercados são sempre limitados, o que nem sempre justifica investir com o objetivo expansionista.
Portanto, esse é mais um aspecto em que o Toyotismo se mostra eficaz para otimizar recursos, inclusive a força de trabalho.
Aumento da qualidade
O uso mais consciente e racional dos recursos leva, necessariamente, ao aprimoramento da qualidade do produto final.
Isso porque, como também vimos, o Toyotismo nasce em um contexto no qual os mercados eram restritos e os insumos escassos.
Dessa forma, nenhuma empresa podia se dar ao luxo de introduzir no mercado produtos de baixa qualidade, sob pena de verem seu esforço de redução de custos ir por água abaixo.
É dessa forma que o modelo toyotista contribuiu e continua contribuindo para que as empresas produzam com máxima qualidade e mínimo desperdício.
Lembre, ainda, que ele é todo pautado na melhoria contínua, em que a preocupação com a qualidade é permanente.
Vale usar o sistema toyotista nos dias atuais?
Embora tenha se difundido a partir da década de 1970, o Toyotismo continua atual e seus princípios seguem sendo aplicados em empresas de diversos segmentos.
Afinal, quem é que discordaria, por exemplo, da necessidade de melhorar continuamente como forma de se manter competitivo?
Isso sem contar que o Toyotismo prega antes a qualificação do trabalhador para que ele domine as máquinas e não a especialização em tarefas específicas, como defende o Fordismo.
Essas são apenas algumas lições que esse modelo nos deixa e que podem ser replicadas ainda hoje, não importa o tamanho da empresa nem o seu nicho de mercado.
Conclusão
O modelo toyotista ganhou o mundo entre os anos 1970 e 1980, quando se consagrou como forma de produção na indústria.
Ele deu origem ao Lean Manufacturing, que viria a se tornar um verdadeiro paradigma de produção.
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Faça do conhecimento o ponto de partida para usar o Toyotismo a favor de seus objetivos.
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