O Cisne Negro vem aí.. cuidado com a economia
O Cisne Negro – Será que o Brasil está próximo de um Cisne Negro? Quando o governo tenta interferir muito na economia para “mantê-la” funcionando, é sinal de que alguma coisa vai mal. E mesmo após tanta interferência, o PIB cresce 1% e a inflação vai de vento em popa, a coisa está mal mesmo. No artigo de hoje vamos transcreve uma entrevista que gênio Nicholas Nassim Taleb dá à Charlie Rose, sobre a história do Peru e do Açogueiro. Esta história está presente em seus dois livros: “A lógica do Cisne Negro” e “Antifrágil”.
O Peru ilustra um erro de análise de dados cometidos por muitas empresas
O Peru ilustra um erro de análise de dados cometidos por muitas empresas, principalmente em épocas de bonança como a que estamos vivendo agora. O Peru da história acredita cada vez mais que o açougueiro é seu amigo, pois este o alimenta durante mil dias. No dia 999 a corporação formada pelos Perus só tem a comemorar. Está tomando cada vez mais risco e confiantes de quem podem confiar mais e mais no seu parceiro estratégico “Mr. Butcher”. A corporação fica tão confiante que se esquece das contingências e da parcimônia. Começa a afirmar que o mundo está cada vez melhor e que suas previsões se confirmam a cada dia. O departamento de previsão da Peru Company, com a sua equipe de renomados especialistas, confia cada vez mais em suas previsões. Faz 500 dias que eles acertam a previsão. Seus bônus estão cada vez mais altos… o céu é o limite para eles (pensam os pobres perus). Acompanhem a entrevista e veja o que acontece com os super-perus.
Entrevista com os super-perus
CHARLIE ROSE: E qual é a história do Peru?
NASSIM NICHOLAS TALEB: No livro, eu tenho a história de um Peru que é alimentado durante 1.000 dias por um açougueiro. Todos os dias ele confirma as análises do Peru. O Departamento de Economia do Peru, o Departamento de Gestão de Risco do Peru e o Departamento de Análise do Peru, fica cada dia mais confiante de que o açougueiro ama os Perus. Assim, o Peru é alimentado durante 1.000 dias…
CHARLIE ROSE: Fica mais gordo e mais gordo e mais gordo.
NASSIM NICHOLAS TALEB: mais gordo e mais gordo. No dia em que o Peru estará em seu conforto máximo, haverá uma surpresa. Haverá uma surpresa para o Peru.
CHARLIE ROSE: Sim.
NASSIM NICHOLAS TALEB: Haverá uma surpresa para o Departamento de Economia do Peru, para todos aqueles doutores. Será que há afinal, um máximo para a bondade deste açougueiro?
CHARLIE ROSE: Mas, não será uma surpresa para o açougueiro, será?
NASSIM NICHOLAS TALEB: Não será uma surpresa para Charlie Rose também. Não será uma surpresa para os seres humanos. Será uma surpresa para o Peru. Assim, a ideia aqui é que não devemos ser um Peru.
Quem ou o que pode ser a próximo peru? Cuidado com as suas previsões. Cisnes Negros existem e, eles aparecem após momentos de extrema calmaria. A última vez que eles nos procuraram foi em 2008. Será que não está na hora de ele voltar? A função do gestor e do empresário é estar preparado, sempre, para a sua visitinha indesejável. Queime a gordura. Seja Lean, nos seus estoques. Capacite sua equipe. Pois quando ele aparecer, você estará preparado e vai conseguir correr mais que os demais e, quando ele se for, você será o novo líder.
Nassim Nicholas Taleb é um gênio! Mas como ele mesmo analisa, é possível aproveitar os Cisnes Negros. A gestão do desconhecido é um assunto que me interessa muito, já que faz uma conexão imediata com os temas mais “polêmicos” da ciência, o conhecimento de fronteira. O limite entre o conhecido e o desconhecido e a elaboração de Programas de Pesquisa (vide Lakatos).
Cisnes negros são eventos improváveis, de alto impacto e apenas de lógica retrospectiva: é impossível prevê-los, mas podemos chegar a conclusões óbvias sobre porque acontecerem logo após acontecerem. De qualquer forma, os Cisnes Negros não são necessariamente negativos.
A história do título do livro se remeta à Europa antiga onde, supostamente, havia uma expressão popular onde um evento muito provável de acontecer, era tão provável quanto os cisnes serem brancos; até que James Cook explorou a Austrália e trouxe um único cisne da cor negra, que desconstruiu toda a expectativa européia em relação às cores dos cisnes até então.
Essa história é um problema muito antigo da Filosofia da Ciência, é chamada de O Problema do Indutivismo, também conhecido como o Problema de Hume ou o Paradoxo do Peru Ingênuo.
O paradoxo do Peru Ingênuo funciona assim: um peru é alimentado criteriosamente todos os dias de manhã por um fazendeiro durante uma sequência muito grade de dias. Durante todos esses dias o peru cria a consciência completa de que em seu universo ele é alimentado todos os dias, sempre no período da manhã. O peru ingênuo não espera, mas em um dado dia (às vésperas de Natal) ao contrário de tudo o que aconteceu até então, em vez de ser alimentado ele foi morto. Um ponto fora da curva que foi suficiente para destruir todo o modelo construído até então.
Mas voltando na Filosofia da Ciência, resumidamente: os primeiros pensadores a analisarem a ciência como método levantaram a corrente do Indutivismo, onde as constatações eram feitas a partir das observações e leis eram traçadas – muita coisa realmente BOA veio a partir desse tipo de contribuição, como por exemplo a Lei de Snell da refração. De qualquer forma veio um tal de Humes e levantou a problemática: pouco importa o grande número de cisnes brancos que tenhamos observado; não justifica a conclusão de que todos os cisnes são brancos.
Mas os caras sensacionais da Filosofia da Ciência começam a partir de Popper e Feyerabend para mim. Popper foi o responsável por introduzir o conceito de falseabilidade no método científico, o que é a principal ferramenta para desconstruir os chamados “Argumentos Ad Auditores” (Estrategema Nº 28 de Schopenhauer). A ideia do Falsificacionismo é que quanto mais difícil testar uma teoria para averiguar se ela é falsa ou verdadeira, mais fraca ela é – teorias fortes são aquelas que qualquer pessoa pode ter a chance de tentar desconstruí-la, mas nunca obteve exito. É aí que voltamos no Taleb – o falsificacionismo tende a favorecer teorias que são mais resistentes à Cisnes Negros, porque recorrem a diferentes visões de realidade. Quanto mais testável uma hipótese for, menos sujeita à Cisnes Negros ela estará.
De qualquer forma, não existem só Cisnes Negros negativos. Mas como aproveitar os Cisnes Negros positivos? A resposta tem um pouco a ver com o outro cara que eu disse, o Feyerabend. Feyerabend defende a ideia do anarquismo científico e sua obra mais famosa é chamada “Agaisn’t Method”. Esse cara defende que nenhuma metodologia proposta até hoje foi bem sucedida por muito tempo, todas fracassaram em fornecer regras adequadas para orientar as atividades dos cientistas. De certa forma vejo essa ideia conectada com o conceito de “Cisne Cinza” de Taleb.
Como já faz algum tempo que li esse livro, vou me poupar de reestudar algo para escrever sobre os cisnes cinzas e citar uma fonte externa (rs): http://expresso.sapo.pt/aprenda-a-lidar-com-cisnes-cinzentos=f580029