Cuidado com as notícias: aumento no número de acidentes aéreos
Toda vez que eu leio uma notícia comentando dados sobre crescimento ou redução de um indicador especifico, eu começo com o pé atrás. Esta semana saiu no G1 sobre o aumento de acidentes aéreos (https://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/01/brasil-fecha-2012-com-novo-recorde-de-acidentes-aereos-aponta-cenipa.html) a seguinte manchete:
“Brasil fecha 2012 com novo recorde de acidentes aéreos, aponta Cenipa. Número preliminar mostra 168 casos no ano passado, contra 159 em 2011. Acidentes com mortes crescem; 2013 terá redução, acredita oficial da FAB.”
O que você pensa ao ler a chamada desta notícia? A minha primeira impressão é de que o caos tomou conta da aviação geral, com o número de acidentes batendo recorde e o número de mortes crescendo. Aí, para finalizar a chamada ainda diz que um oficial da FAB acredita em redução para 2013. Como ele acredita nisto? Deve estar desejando e não acreditando.
Quando continuei a ler a matéria encontrei trechos falando que houve um aumento de 10% no número de acidentes com aviações e uma redução de 22% no número de acidentes com helicópteros. Poxa, penso eu, o pessoal tá fechando os olhos para os aviões e a coisa está ficando cada vez mais perigosa.
Será que está análise tem fundamento?
Mas, será que está análise tem fundamento? Pelos nossos outros posts vocês já devem ter aprendido que comparar um ano com o outro é o tipo de análise mais míope que se pode fazer. Você também já sabe que a variação de causa comum está presente em quase todos os indicadores do mundo e que entender a variabilidade para não falar bobagem é parte fundamental do trabalho de qualquer um. Você, assim como eu, também deve ter se perguntado se faz sentido analisar o número de acidentes, já que a este número depende do tamanho da frota. Se a frota cresce, e os procedimentos de segurança de voo não mudam, é de se esperar que o número de acidentes aumente. Portanto, para analisarmos se voar está mais ou menos seguro, devemos usar outra técnica.
Analisamos a porcentagem
Há dois jeitos de se fazer isto, ou analisamos a porcentagem da frota que se envolveu em acidente ou analisamos a taxa dos acidentes por ano. Este último irá nos alertar se alguma coisa de especial aconteceu em 2012 e forçou o número de acidentes a subir mais do que ele vem subindo há tempos. Mão-a-obra. No gráfico 1 vamos analisar a porcentagem de aeronaves envolvidas em acidentes com perda total e no gráfico 2 vamos analisar a porcentagem de aeronaves envolvidas em acidentes fatais. Por último, no gráfico 3, vamos analisar a taxa anual de crescimento do número de acidentes com aeronaves.
Figura 1: porcentagem de aeronaves envolvidas em acidentes com perda total. (fonte: CENIPA)
Figura 2: porcentagem de aeronaves envolvidas em acidentes fatais. (fonte: CENIPA)
Figura 3: taxa anual de crescimento do número de acidentes com aeronaves. (fonte: CENIPA)
Pelos gráficos é possível analisar que nada de anormal aconteceu em 2012. Aliás, o crescimento de 2011 para 2012 foi muito menor do que o crescimento de 2010 para 2011. Ou seja, a notícia é puro sensacionalismo e induz as pessoas a pensarem de uma maneira não correta. Vale destacar que não estamos falando que o número de acidentes é baixo ou que a variabilidade no número de acidentes não é alta. Falo apenas que as análises e declarações feitas induzem a conclusões equivocadas.