Cuidado: análise errada!
No post de hoje vou pegar emprestado a ideia de outro blog que critica gráficos elaborados por jornais e revistas, o atireiopaunografico.com.br. Nosso alvo hoje vem da revista Exame, edição de 2 de outrubro de 2013, seção Grandes Número de Humberto Maia Junior.
O autor faz uma análise sobre o número de fusões e aquisições no Brasil e no mundo. A manchete vinculada relata “O apetite para compra caiu entre as empresas”. E, para justificar o alarde, o autor faz uso de um gráfico de barra com o intuito de mostrar o comportamento de uma variável ao longo do tempo, o que não é indicado. Neste gráfico, o autor compara o primeiro semestre de 2013 com o primeiro semestre de 2012 e dispara: o número de aquisições no Brasil diminui quase 23%. Pergunta do blog EDTI: faz sentido comparar uma série histórica ano a ano? O que é possível concluir com esta afirmação “alarmante”? A indústria de fusões e aquisições no Brasil está indo para o buraco? Vamos olhar mais de perto.
Figura 1: notícia vinculada na Exame – Edição de 02 de outubro de 2013 – seção Grandes Números – Página 33.
A primeira coisa a se fazer é elaborar o gráfico correto, que neste caso é o gráfico de tendência. O gráfico pode ser analisado na figura 2.
Figura 2: gráfico de tendência do número de fusões e aquisições no Brasil no primeiro semestre do ano 2007 até 2013.
Quando olho para a figura 2 eu vejo exatamente o oposto. Vejo que a partir de 2009, ano de crise para a economia brasileira, o mercado de fusões e aquisições vem se recuperando fortemente. Sendo assim, temos que mandar o pau na análise da Exame. Ela está analisando ruído puro. 23% de variação, para este indicador não é nada. Querem ver? Vamos elaborar um gráfico de controle do retorno do número de fusões e aquisições (fig. 3).
Figura 3: gráfico de controle do retorno anual do número de fusões e aquisições no Brasil no primeiro semestre do ano 2007 até 2013.
Como suspeitávamos. A figura 3 deixa claro que o setor cresce a taxa média de 10% ao ano desde 2007, e uma variação de 23% é perfeitamente normal, não ficando evidente nenhum causa especial a ser observada.
Não contente pela análise do cenário brasileiro, o autor lança mão de outro gráfico de esquisitão para mostrar a evolução do número de negócio no resto do mundo. Para analisar melhor estes dados, vamos elaborar mais um gráfico de tendência (fig. 4).
Figura 4: gráfico de tendência do número de fusões e aquisições no mundo no primeiro semestre do ano 2007 até 2013.
Na figura 4 fica mais fácil enxergar que há uma queda no número de fusões e aquisições nos últimos anos. Mas será que a queda de 30% alardeada pelo autor é significativa? Vamos de gráfico de controle para responder isto (fig. 5).
Figura 5: gráfico de controle do retorno anual do número de fusões e aquisições no mundo no primeiro semestre do ano 2007 até 2013.
Como suspeitávamos, nada de anormal, tudo dentro das bandas de controle e uma queda média de 9% ao ano, desde 2007. Mais uma vez, jornalista analisando causa comum como se fosse especial. A dica deste post é: cuidado com as notícias e principalmente com os gráficos que você vê por aí. Numa época que Big Data tá na moda, tem muita gente que faz bobagens ao analisar gráficos e sai espalhando pelos quatro cantos conclusões duvidosas. Mesmo se bem intencionadas, este tipo de análise é perigoso demais.
A análise correta seria: “número de fusões e aquisições no Brasil continua com tendência de alta, ao contrário do resto do mundo”. “Mas o Brasil ainda representa muito pouco na indústria mundial de fusões e aquisições”.
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Prezado virgilio, gostei do comentário. Primeiro que coletar dados de semestres comparativamente pode ser ruído sim, pois entendo que a coleta de dados amostrais desprezadas no segundo semestre ao segregar em anos desconsidera o critério da aleatoriedade da amostra. Se a economia deu uma melhorada no segundo semestre os desesperos para “juntarem-se” diminuiu. Agora, com relação ao segundo gráfico já possuo uma opinião de que ao elaborar o gráfico de controle efetuando os nove testes do minitab, poderá ser que os dados apresentem uma tendência real de queda, o que levaria a uma análise de instabilidade do processo de aquisições no mundo. Abraços
Está caindo, fato. Você tem razão Marcelo, como disse, cai no mundo e sobe no Brasil.