Análise de dados: a taxa de câmbio e a produção industrial
Análise de dados – A competividade da indústria e a taxa de câmbio
É quase que um mantra. Toda vez que a indústria começa a ir mal os empresários clamam pela intervenção do governo na taxa de câmbio. Gritos e manifestações para a desvalorização cambial são ouvidos em todos os cantos do país, assim como as ameaças de demissões em massa e fechamento de empresas. Mas, será que isto é verdade mesmo? Será que tem alguma indústria de transformação que sofre mais que as outras? No artigo de hoje vamos responder a esta pergunta utilizando somente as ferramentas ensinadas nos cursos de Green Belt e Estatística da EDTI.
Ótima fonte
A primeira coisa a se fazer para se elaborar esta análise é coletar os dados. Uma ótima fonte para este tipo de análise é o Ipeadata. Lá estão disponíveis os dados relativos à taxa de câmbio efetiva, que é um valor calculado pela média ponderada do índice de paridade do poder de compra dos 16 maiores parceiros comerciais do Brasil. (A paridade do poder de compra é definida pelo quociente entre a taxa de câmbio nominal (em R$/unidade de moeda estrangeira) e a relação entre o Índice de Preço por Atacado (IPA) dos pais em caso e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC/IBGE) do Brasil. As ponderações utilizadas são as participações de cada parceiro no total das exportações brasileiras em 2001). E também estão disponíveis os dados sobre a produção indústrias de diversos setores da indústria, todos na base mensal.
Como primeira análise nós vamos observar os dados da indústria que historicamente mais reclama do câmbio, a indústria de máquinas e equipamentos. Para isto utilizamos um gráfico de dispersão que pode ser observado na figura 1.
Figura 1: Gráfico de dispersão entre a produção de máquinas e equipamentos e a taxa de câmbio efetiva real entre jan/2002 e ago/2012.
Correlação negativa entre o aumento da taxa de câmbio e a produção da indústria de máquinas e equipamentos
Ao analisarmos o gráfico podemos verificar a existência de uma correlação negativa entre o aumento da taxa de câmbio e a produção da indústria de máquinas e equipamentos. O valor do índice de correlação é de 0,628 negativo. Para este tipo de indústria o pleito dos empresários se faz justo, pois o setor é fortemente impactado pela desvalorização do câmbio.
Agora vamos analisar outro setor, a indústria de impressões, edição e gravação, mais conhecida como indústria gráfica. Será que este setor sofre com o câmbio? A figura 2 sugere que não.
Figura 2: Gráfico de dispersão entre a produção da indústria gráfica (média 2002 = 100) e a taxa de câmbio efetiva (média 2005 = 100).
Analisando o gráfico da figura 2 podemos ver que não há correlação. Este é um setor que não sofre com as variações cambias.
O objetivo deste artigo, como mencionado no início, é encorajar vocês a utilizarem as ferramentas estatísticas simples, assimiladas nos cursos EDTI para testarem as hipóteses ouvidas por aí. Há muita bobagem quando se trata da análise estatística que são divulgadas como verdades inquestionáveis. Porém, você gestor ou dirigente de uma empresa, pode derrubá-las por meio de simples análises gráficas como esta. Não demora mais que 30 minutos para você estruturar uma análise de dados simples que poderá economizar meses e até anos na sua empresa.