A Quarta Revolução Industrial não é exatamente uma novidade — ela vem dando o que falar há mais de uma década — mas ainda impressiona pelos seus efeitos e as tendências criadas.
Quem diria, por exemplo, que um dia chegaríamos à manufatura aditiva, ou a sistemas industriais 100% robotizados, controlados como se fossem videogames?
Pois essas são algumas das inovações desse movimento que, ao que tudo indica, ainda vai longe.
Graças aos avanços da Indústria 4.0, como é mais conhecida a Quarta Revolução Industrial, empresas do ramo industrial elevaram a sua produtividade.
Em alguns casos, o aumento chega à casa dos 22%, como apurado no programa-piloto Indústria Mais Avançada, do SENAI.
Pelo menos na indústria, o uso da tecnologia digital e de recursos como a Inteligência Artificial parece ser uma unanimidade.
Ninguém contesta o progresso impulsionado por essas tecnologias, que vamos abordar melhor a partir de agora.
O que é a Quarta Revolução Industrial?
Quarta Revolução Industrial é um movimento que começou em 2011, quando o termo foi usado publicamente pela primeira vez, na Feira de Hannover, uma das mais importantes do mundo no ramo da automação.
Ela serve para designar a mais recente etapa evolutiva da indústria de transformação.
Nesse contexto, uma série de tecnologias passaram a ser utilizadas nos processos fabris, hoje bem menos dependentes da mão humana.
As linhas de montagem tornaram-se mais eficientes na Indústria 4.0, estando menos sujeitas a falhas, enquanto sua gestão foi incrivelmente facilitada.
Hoje, é possível gerir uma rotina inteira de produção na palma da mão, graças a dispositivos conectados a equipamentos industriais online totalmente digitalizados.
Esse avanço na produção levou a outros avanços “por tabela”, como se observa na cadeia de suprimentos e nas operações logísticas em geral.
Primeira, segunda, terceira e quarta Revolução Industrial
A Quarta Revolução Industrial se encaixa em um processo contínuo de avanço na indústria em termos tecnológicos.
Ela é, até agora, a última palavra em matéria de recursos, máquinas, equipamentos, insumos e técnicas de produção.
Na Indústria 4.0, preocupações que sempre existiram nos movimentos anteriores evaporaram, entre os quais a falha humana, ainda que ela exista em algum nível.
Afinal, nem todos os países e regiões estão plenamente conectados a esse movimento, que exige um alto nível de desenvolvimento tecnológico e, por extensão, educacional.
Mesmo assim, em países como o Brasil, ela se faz notar no parque industrial como um todo, como também aponta o SENAI.
De acordo com a entidade, ferramentas de baixo custo como Internet das Coisas (IoT), computação em nuvem e sensoriamento já são uma realidade em nosso país.
Até chegar a esse ponto, porém, foi preciso percorrer uma longa jornada, que começa no século XVIII, na Inglaterra.
Primeira Revolução Industrial (1760-1850)
Boa parte do modelo de organização do trabalho vigente hoje é herdado da Primeira Revolução Industrial, que começa no século XVIII, até meados do século XIX.
Foi nesse período histórico que começou o movimento de migração em massa do campo para as cidades, em razão da grande demanda por trabalhadores nas fábricas em expansão.
O país em que isso aconteceu com mais intensidade foi a Inglaterra, naquela altura a grande potência econômica mundial.
Os ingleses revolucionaram o modo de produzir bens, ao introduzir as máquinas em suas tecelagens, com o objetivo de aumentar a produção e agilizá-la.
Os primeiros teares mecânicos faziam o trabalho de pelo menos 10 pessoas, gerando como consequência a dispensa de milhares de trabalhadores.
Outra característica desse movimento é a mudança de matriz energética, sendo introduzido pela primeira vez o carvão como combustível em escala industrial.
Segunda Revolução Industrial (1850-1945)
O progresso gerado pela Primeira Revolução Industrial reverberou mundo afora, levando ao surgimento de novas potências econômicas como Alemanha, França, Itália e Estados Unidos.
Nesses países foram desenvolvidas boa parte das tecnologias que levariam à segunda grande etapa de desenvolvimento da indústria.
A Segunda Revolução Industrial passou para a história como o período em que foram incorporados dois novos combustíveis: a eletricidade e o petróleo.
Entrou em cena também nesse período o aço como um dos principais insumos industriais, o que levou a mudanças profundas no modo de produzir.
Um dos principais impactos causados pela descoberta de novas fontes de energia foi a ampliação da capacidade produtiva.
Com a popularização do aço, a indústria de bens de consumo duráveis ganha um impulso sem precedentes, culminando com o “boom” da indústria automotiva.
Terceira Revolução Industrial (1945-2011)
Também conhecida como Revolução Técnico-Científica-Informacional, a Terceira Revolução Industrial se caracteriza por incorporar a ciência e a pesquisa.
Vem dessa fase a utilização da eletrônica e da informática pela primeira vez nos processos industriais, o que levou ao aprimoramento da siderurgia e metalurgia.
Há quem diga que a Segunda Guerra Mundial ajudou a alavancar a indústria nesse período, já que muitos dos avanços foram criados e testados nos campos de batalha.
A Terceira Revolução Industrial também é a etapa em que as comunicações globais se expandiram, por meio do rádio, televisão e telefonia.
Mais informações circulando aceleraram ainda mais os avanços no campo da pesquisa, em especial na eletrônica, que foi incorporada à indústria.
É também nessa fase que se começa a se desenvolver a indústria de alta precisão, como a farmacêutica e a robótica.
Quarta Revolução Industrial
De certa forma, a Indústria 4.0 aprofunda muitas das transformações iniciadas na Terceira Revolução Industrial.
A globalização, por exemplo, entra em um estágio ainda mais avançado, em razão da massificação da comunicação via internet.
Tanto que é nessa fase que surge o conceito de Internet das Coisas (IoT), segundo o qual tudo e todos podem estar conectados. Mais especificamente na indústria, esse conceito dá origem à Internet Industrial das Coisas (IIoT).
Portanto, é na digitalização e na troca de informação em escala massiva que se apoiam os avanços da Quarta Revolução Industrial.
A expansão da capacidade de transmissão de dados fez surgir um novo conceito, o de Big Data.
Como expôs Ajay Banga, na indústria 4.0 os dados são o “novo petróleo”.
Nesse contexto, desenvolvem-se também os softwares capazes de armazenar e tratar dados para gerar insights.
Assim, a indústria passa a ser “inteligente”, de uma forma como nunca vimos, principalmente graças ao fluxo de informação proporcionado pela internet.
Quando começou a Quarta Revolução Industrial?
Embora a Indústria 4.0 tenha o seu “pontapé inicial” em 2011, foi somente em 2016 que o movimento ganhou corpo para valer.
Nesse ano, Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, publicaria o livro “A Quarta Revolução Industrial”, obra de referência sobre o assunto.
Schwab recorre à seguinte definição para caracterizá-la:
“A Quarta Revolução Industrial gera um mundo em que os sistemas de fabricação virtuais e físicos cooperam entre si de uma maneira flexível a nível global”.
Ela vai além, não apenas aplicando tecnologia digital aos processos industriais, como proporcionando uma espécie de fusão entre real e virtual.
É nesse contexto que a gamificação desponta como uma solução não apenas para os processos de treinamento, como no próprio chão de fábrica.
A Indústria 4.0 traz ainda conceitos totalmente novos para áreas como a saúde, com o avanço na nanotecnologia e a telemedicina.
Ela abre campos até então inexplorados, como o do turismo espacial, por meio de novas empresas privadas nesse novo setor.
Características da Quarta Revolução Industrial
No embalo da Indústria 4.0, a humanidade vem usufruindo de avanços incríveis não apenas no segmento tecnológico, mas principalmente das comunicações.
Veja a seguir que avanços são esses e como eles repercutem na indústria como um todo:
- Tecnologias disruptivas: com a introdução de tecnologias disruptivas, como inteligência artificial, IoT, robótica avançada, impressão 3D, realidade virtual e aumentada, entre outras
- Conectividade total: a conectividade agora é total, graças à internet de alta velocidade impulsionada pela massificação do uso de dispositivos móveis e pela interconexão de objetos e sistemas em rede
- Automatização: outra marca registrada é a automatização de processos e tarefas, graças ao uso de robôs e sistemas inteligentes
- Mudança no mercado de trabalho: a Indústria 4.0 está mudando o mercado de trabalho, com a automação de tarefas repetitivas e a demanda por novas habilidades, como programação e análise de dados
- Personalização: produtos e serviços são cada vez mais personalizados, em razão do aumento na capacidade de coletar, analisar e utilizar dados para entender as necessidades dos clientes
- Economia compartilhada: a Indústria 4.0 têm feito surgir e se expandir novos modelos de negócios baseados na economia compartilhada, como serviços de carona, hospedagem e entrega
- Sustentabilidade: ela também está ajudando a promover a sustentabilidade por meio de tecnologias mais eficientes e da redução de desperdícios como pela popularização de matrizes energéticas livres de carbono.
Quais as fontes de energia da Quarta Revolução Industrial?
Muitos dos problemas ambientais pelos quais passamos hoje são creditados à Primeira e Segunda Revolução Industrial.
Como vimos, nesses períodos entram em cena novas fontes de energia, com destaque para o carvão, o petróleo e a eletricidade.
Os dois primeiros são considerados hoje verdadeiros vilões para o equilíbrio dos ecossistemas, já que são verdadeiras “bombas” de carbono, o principal composto poluente da atmosfera e das águas.
Claro que boa parte dessa poluição vem da atividade humana, que provavelmente não geraria tanto impacto ambiental se utilizasse fontes de energia “carbono zero”.
Nesse sentido, a Quarta Revolução Industrial dá de goleada nas outras, já que, pela primeira vez, propõe variações nas fontes de energia tendo em vista seus impactos sobre o meio ambiente.
Entre as principais, destacam-se a energia elétrica para abastecer veículos e as energias eólica e solar para gerar eletricidade nas cidades.
Consequências da Quarta Revolução Industrial
A exemplo das revoluções anteriores, a 4RI também cobra o seu preço.
Um deles é o aumento do desemprego, pelo menos em um primeiro momento, quando as pessoas ainda estão sendo pegas “desprevenidas” em relação aos avanços.
Por mais que o uso de Big Data seja louvável, ele traz como consequência uma espécie de tecnocracia dos algoritmos, em que somente grandes empresas com alta capacidade de retenção de dados têm margem de manobra.
Não surpreende, portanto, que as maiores empresas do mundo sejam aquelas que trabalham diretamente com dados, como Google, Facebook e Apple.
Pontos positivos da Quarta Revolução Industrial
Tantas mudanças na forma de produzir bens logicamente provocam mudanças na forma como os consumimos.
É na Indústria 4.0 que surge o consumidor omnichannel, cujo comportamento de compra é caracterizado pelo uso de vários canais de comunicação.
Esse consumidor é muito mais rápido ao tomar decisões, tendo em vista a grande oferta de bens que ele encontra pela internet e a facilidade de encontrar informações.
A 4RI trouxe muitos avanços nesse aspecto, ao agilizar a comunicação entre empresas e clientes.
Ainda por cima, essa agilidade vem acompanhada de uma incrível redução na margem de erro e dos defeitos de fabricação.
Vale destacar também as vantagens da manufatura aditiva, muito mais limpa do que os processos industriais convencionais e menos propensa ao desperdício.
Quarta Revolução Industrial no Brasil
Apesar de demandar um altíssimo nível de desenvolvimento tecnológico, observável em especial nos países mais ricos, o Brasil já deu a largada na sua participação na “corrida” da Indústria 4.0.
É de se destacar nesse ponto a participação fundamental do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, o SENAI, que já investiu cerca de R$ 3 bilhões na criação de 28 Institutos de Inovação no país.
Porém, há ainda um longo caminho a percorrer, como mostra o Ranking de Competitividade Mundial, divulgado pelo IMD.
No ranking 2022, figuramos em uma modesta 52ª posição, em uma lista com 63 nações na parte de infraestrutura, e na 50ª posição na parte de eficiência nos negócios.
Conclusão
Nós estamos em plena Quarta Revolução Industrial, um momento histórico com avanços notáveis em todos os sentidos.
A Escola EDTI prepara líderes para atuar nesse cenário, com seus cursos EAD e presenciais para formar gestores Green Belt e Black Belt.