O Saber Profundo e sua carreira
Em nossas aulas de Green Belt e Black Belt sempre falamos sobre a teoria do Saber Profundo de Deming. Todo aluno do curso, em tese, deveria sair de lá sabendo que para que seus projetos progridam, ele deve estar fundamentado no Saber Profundo de Deming. Mas afinal, o que é isto? Saber Profundo são 4 pontos que Deming colocou como fundamentais a qualquer pessoa que deseja melhorar sua organização, são eles:
- Visão sistêmica
- Entender variabilidade
- Teoria do conhecimento (aprender a aprender – PDSA)
- Psicologia
Estes princípios são extremamente simples de se entender. Quando explicamos, quase todos os alunos entendem rapidamente o que significam e citam vários exemplos de problemas causados pela falta deles. Porém, quando reencontramos os alunos depois de certificados ou participamos de projetos de melhoria em suas empresas, vemos que implantar estes princípios é algo muito desafiador.
Um caso sobre a aplicação do Sistema do Saber Profundo
Em minha opinião, a mudança cultural mais difícil se dá na implantação do segundo princípio: entender a variabilidade. Como os antigos, vou exemplificar o meu ponto de vista por meio de um “causo”.
Qual é a melhor carreira para se escolher hoje: empreendedor, funcionário público ou executivo? Pense e seja sincero. Quando falamos sobre empreendedor, logo pensamos em um cara bem sucedido, na faixa dos 30 a 40 anos, confortavelmente instalado em um belo prédio de escritórios e contando, por meio da mídia, dicas de sucesso. A história do empreendedor geralmente começa cheia de dificuldades, com muitos mais baixos do que altos e muito luta (esta parte eles costumam dar bastante enfoque). Falam que começaram do nada e quase perderam tudo que tinham, mas de repente, devido a trabalho duro e perseverança, viraram o jogo.
A história do funcionário público, por sua vez, é bem diferente. Você pode imaginar alguém que se esforçou bastante no começo para passar num concurso e que depois, foi progredindo lentamente ao longo da carreira. Este na maioria das vezes começa com um salário razoavelmente alto e vai crescendo aos poucos, até aposentar. Toda progressão na carreira dele é planejada e dificilmente ele se dará conta de como dói esta tal de variabilidade quando presente em seus rendimentos.
workahoolic
Já o executivo, todos imaginam um workahoolic nato, dando a vida por sua companhia anos a fio até que um dia, consegue uma promoção e decola. O executivo geralmente começa num programa de estágio ou treinee e vai galgando postos na empresa até chegar a gerente. Chegando lá, batalha, faz política, quebra galhos e atinge a tão almejada diretoria. Como no caso do funcionário público, o executivo (se não for demitido) não deverá enfrentar grandes problemas com a variabilidade em seus rendimentos. Terá um salário fixo mais um bônus anual, que geralmente tem muito mais a ver com a aleatoriedade do que com o seu trabalho. Este bônus irá lhe proporcionar um incentivo a mais para manter-se na carreira e, um gostinho de vitória que em tese só o empreendedor conseguiria provar.
Listado estas três carreiras: qual seria a melhor? Depende. Depende do que? Do quanto você entendeu sobre a variabilidade. Se você tem plena convicção dos componentes aleatórios da vida e está disposto a encará-los em seu trabalho, seja empreendedor. Se você odeia a variabilidade presente nos rendimentos e, isto lhe traz grande incomodo, seja funcionário público. Se por outro lado você gosta da ideia de ter um rendimento variável, mas não quer correr o risco de voltar a morar na casa dos pais ou não poder fazer aquela viagem de final de ano com a família, seja executivo.
A variabilidade é uma das coisas mais misteriosa para o ser humano
Alguns adoram, outros odeiam e assim, há aqueles que a “compram” e aqueles que a “vendem”. O empresário compra a variabilidade (ou risco) dos seus funcionários e em troca, recebe um prêmio por isto. Já o funcionário vende a variabilidade dos seus resultados ao patrão e, sofre um desconto por isto. Quando penso em mais valia, não consigo deixar de atrelar este conceito à variabilidade. Acho que mais que vender sua hora ao patrão capitalista, o colaborador vende as incertezas do seu futuro próximo. Portanto, quem entender de variabilidade poderá compra-la ou vende-la a um custo mais oportuno. Boa sorte a todos e lembrem-se, todas as carreiras são importantes.
Ah, por último, coloco uma figura com as três cenários hipotéticos para as carreiras. Nestes cenários, todos acabam bem, mas não é sempre isto que acontece. Cuidado. Você também poderá mudar de carreira ao longo da vida, é muito comuns empreendedores que aproveitaram a aceleração inicial do executivo ou o conhecimento do funcionário público para diminuírem a variabilidade ao longo da vida e depois, partiram para a carreira de empresários. Não é interessante isto?
Ótimo post Virgílio!
A linha do empreendedor me parece bem real…hehehehe
Abraços
Robson
Obrigado Robson. Esta curva dói muito Rs….
Mas vale a pena
Parabéns Virgílio,
Gostei muito do texto e do gráfico, como sempre são bons pontos de vista. Não me vejo muitos anos na mesma empresa e acredito que, para mim, a estabilidade econômica do funcionário público seria inversamente proporsional a estabilidade de felicidade, pois acredito que nossa vida seja feita de momentos felizes e se não posso passar por grandes dificuldades não terei grandes vitórias. Por outro lado, acho que você foi muito bondoso com a vida dos executivos que ao contrário dos que têm algum Q.I. dentro do board da empresa, sofrem todo tipo de pressão, preconceito, etc. e, mesmo depois de chegarem a cargos diretivos, continuam sendo alvo de assédio por seus pares.
1 Abraço!
Tiago
Ótimo comentário.
Você recebeu o convite do encontro de Fatoriais? Abraços Tiagão
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