Quem trabalha com produção sabe da importância de apresentar um produto impecável para se destacar da concorrência – e é justamente essa a especialidade dos gurus da qualidade.
Há pouco tempo, quando falávamos em desafios da produtividade, estávamos nos referindo a uma área ligada à administração e que, por isso, restringia o tema em torno das estruturas organizacionais.
No passado, a discussão girava em torno da entrega ou da escassez, descartando questões subjetivas sobre as condições do produto vendido ou serviço prestado.
Esse cenário é alterado na virada do século XIX para o século XX.
As mudanças sociais e culturais trazidas pela Revolução Industrial e, posteriormente, pelas guerras mundiais, fizeram com que uma nova sorte de tecnologias fosse incorporada à manufatura.
Todo esse avanço tecnológico impactou diretamente na economia global: nunca antes fora tão barato produzir e vender.
Assim, o número de produtos e fabricantes no mercado cresceu exponencialmente em um curto período de tempo.
Inundados de marcas e opções dentre as quais escolherem, o público consumidor passa a ser mais criterioso na hora da compra.
Esse contexto é responsável por inaugurar o momento em que nos encontramos, conhecido como Indústria 4.0, onde contar com diferenciais em seu produto se tornou essencial para manter-se competitivo no mercado.
A qualidade passa, então, a ser o grande foco na produção de empresas do mundo todo.
Entregar no prazo o que foi encomendado já não é mais suficiente na nova era.
Como vários concorrentes produzindo mercadorias similares, os fabricantes precisam, agora, convencer o cliente de que o seu produto é a melhor opção.
Esse novo paradigma, proposto por estudiosos da administração e engenharia, trouxe a qualidade para o centro do debate da produção.
Hoje, investir em mecanismos de gestão e controle de qualidade se tornou um lugar comum para indústrias dos mais diversos setores.
Assim, apresentar um produto de qualidade para a clientela deixou de ser um diferencial para se transformar em um pré-requisito para as empresas que desejam continuar competitivas.
Quer saber mais a respeito? Acompanhe este artigo até o final!
Quem são os Gurus da Qualidade e Como Fazer Para se Tornar um?
Décadas se passaram desde os primeiros esforços para estabelecer a qualidade como uma área foco de empresas que almejam atingir a excelência de mercado.
De lá para cá, diversas ferramentas e metodologias surgiram para facilitar a vida do profissional que trabalha com gestão e controle da qualidade.
Muitas dessas ferramentas já são conhecidas de quem trabalha com engenharia ou administração.
O que pouca gente se dá conta é que cada uma dessas técnicas foi desenvolvida por pesquisadores e profissionais especialistas no assunto, verdadeiros gurus da qualidade.
O termo “guru” pode parecer exagero à primeira vista, mas é exatamente isso que eles são.
Segundo a versão online do Dicionário Michaelis, guru significa um “mentor que tem o respeito e a credibilidade de seus seguidores” ou ainda uma “pessoa sábia que dá orientação e conselhos”.
Esses homens e mulheres tornaram-se verdadeiros ícones da qualidade ao deixarem um legado do seu trabalho para as próximas gerações.
É claro que esse legado não foi construído do dia para a noite, e muito menos por acaso.
As técnicas desenvolvidas pelos gurus são fruto de trabalho árduo para testar variáveis e criar padrões que pudessem ser replicados em outras empresas.
As formações acadêmicas deles variam bastante, havendo especialistas que vieram da estatística, da engenharia, da administração, entre outras.
De fato, essa é uma área que se consolidou como multidisciplinar, atraindo profissionais de diversos segmentos, justamente porque é adaptável às mais diferentes indústrias.
Hoje em dia, a área da qualidade conta com cargos para engenheiros, gestores e controladores.
No Brasil, o posto de engenheiro da qualidade é ocupado por profissionais formados principalmente nas Engenharias de Produção, Mecânica e Elétrica.
Para a especialização, existem no mercado cursos de pós-graduação em Gestão e Engenharia da Qualidade nas modalidades presencial e EAD.
Também é importante citar as certificações, como aquelas oferecidas pela Escola EDTI.
A área de gestão é um pouco mais democrática, aceitando graduados de praticamente todas as áreas – desde que o profissional tenha conhecimento comprovado sobre o tema, é claro.
Para ocupar cargos de controle, um curso técnico ou treinamento interno bastam, na maioria das vezes.
Os 13 Principais Autores da Qualidade e Suas Contribuições
Até aqui, falamos bastante sobre a definição do que é um guru da qualidade e quais são os caminhos para se tornar um.
Esses estudiosos foram responsáveis por desenvolver teorias, ferramentas e sistemas de qualidade que revolucionaram a produção pelo mundo todo.
Algumas das ferramentas se tornaram, inclusive, mais famosas do que seus idealizadores.
Por isso, não se espante se você reconhecer alguma metodologia citada neste artigo, mas não fizer ideia de quem é o seu autor.
Para te ajudar a se familiarizar com o mundo da qualidade, trazemos os principais nomes da área com suas mais importantes contribuições.
Conheça abaixo os principais gurus da qualidade!
1. Armand Feigenbaum
Nascido em Nova York (EUA) e doutor pelo Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT), Feigenbaum foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento do conceito de Qualidade Total.
Com uma bibliografia sucinta, mas impactante, ele é autor da obra inaugural da área, intitulada Total Quality Control (1961).
Em sua atuação profissional, destaca-se a passagem pela multinacional General Eletrics (GE), onde permaneceu por anos trabalhando na melhoria dos processos com foco na qualidade.
Feigenbaum acreditava ser necessária uma descentralização das ações, metodologia chamada de Empowerment.
Assim, todas as áreas da empresa deveriam estar envolvidas no processo de otimização para que a qualidade pudesse ocupar seu papel estratégico no cotidiano da produção.
2. Walter A. Shewhart
Nascido em New Canton (EUA), Shewhart foi um engenheiro, físico e estatístico que ficou conhecido por suas contribuições para inauguração do campo do Controle Estatístico de Qualidade (CEQ) ou Controle Estatístico de Processo (CEP).
Ao lado de William Deming e Joseph Juran, ele foi um dos fundadores do movimento de melhoria da qualidade nas Américas.
O seu sistema de CEQ foi inovador para as indústrias que, até então, faziam a inspeção produto a produto, o se tornou impraticável em uma produção de massa.
Dentre as suas contribuições para a área estão ainda o Ciclo PDCA – posteriormente difundido por Deming – e as chamadas Cartas de Controle.
3. Joseph Moses Juran
De origem romena, o consultor de negócios Joseph Juran mudou-se para os Estados Unidos com a família ainda criança, aos oito anos de idade.
Formado em Engenharia Elétrica pela Universidade de Minnesota, ele teve sua experiência profissional mais notória trabalhando na Western Electrical Company, uma indústria vinculada à gigante das telecomunicações AT&T.
O consultor retomou e expandiu o Princípio de Pareto, desenvolvido pelo economista italiano Vilfredo Pareto no século anterior.
Na adaptação para o ambiente organizacional, ele determinou que, em média, 80% dos erros e problemas de qualidade são ocasionados por 20% das falhas.
Ao lado de Deming, as contribuições de Juran tiveram grande impacto na reconstrução das indústrias japonesas no período pós-guerra.
4. Kaoru Ishikawa
Do outro lado do globo, Kaoru Ishikawa foi um engenheiro, professor e teórico sobre culturas organizacionais.
Formado pela Universidade de Tóquio, onde veio a lecionar posteriormente, Ishikawa foi uma figura chave no desenvolvimento das iniciativas de qualidade que alavancaram a economia de seu país.
Aos 34 anos, foi convidado a participar da União Japonesa de Cientistas e Engenheiros (JUSE), grupo de pesquisa que ajudou a definir o modelo de desenvolvimento que o país adotaria dali em diante.
Dentre as ferramentas propostas por Ishikawa, estão o Diagrama Espinha de Peixe (também conhecido como Diagrama de Ishikawa ou Diagrama de Causa e Efeito) e os Círculos de Qualidade.
5. Philip Crosby
Natural do estado de Ohio (EUA), Crosby foi um engenheiro e é considerado um dos gurus por suas contribuições à área de gestão de controle da qualidade.
Formado pela Kent State University, o estudioso atuou na American Society for Quality Control, montando no fim dos anos 1970 a sua própria firma de consultoria da qualidade.
Dentre as contribuições de Crosby, está o conceito de “zero defeito” que defendia a necessidade de fazer certo já na primeira vez, evitando os retrabalhos.
A compreensão de que a qualidade deveria ser uma filosofia de trabalho ajudou a consolidar sua abordagem, que tem o foco na prevenção de erros e falhas.
O guru da qualidade foi ainda autor da estratégia dos seis Cs (compreensão, compromisso, competência, comunicação, correção e continuação) como forma de garantir a qualidade no longo prazo.
6. William Edwards Deming
Deming nasceu em Sioux City, no Iowa (EUA) e se formou em engenharia elétrica pela Universidade do Wyoming, posteriormente recebendo o título de PhD pela Universidade Yale.
Seu trabalho ganhou notoriedade, principalmente, após ter sido convidado para participar do planejamento da recuperação econômica do Japão após a Segunda Guerra Mundial.
Deming defendia o uso da estatística para analisar e evitar a ocorrência de erros durante a produção, chegando a propor um guia com 14 princípios a serem observados para atingir a qualidade total.
Ele também foi responsável por popularizar o Ciclo PDCA (Planejar, Fazer, Checar e Agir, na sigla em inglês) que havia sido criado por Shewhart, seu conterrâneo.
7. Genichi Taguchi
Nascido em Tokamachi (Japão), Genichi Taguchi foi um engenheiro e estatístico formado pela Gunma University.
Sua história e trajetória profissional se entrelaçam à história do próprio Japão.
Ainda durante sua formação, e em meio à Segunda Guerra, ele foi convocado para atuar no Instituto de Navegação da Marinha Imperial Japonesa.
Com o fim da guerra, Taguchi passa a dedicar seus estudos ao aperfeiçoamento de métodos estatísticos para melhorar a qualidade dos produtos fabricados.
Doze anos de estudos foram consolidados em uma metodologia que ficou conhecida como Métodos de Taguchi.
Depois disso, o engenheiro passou a dar consultorias para empresas de todo o Japão, tendo influência direta na concepção do Toyotismo como sistema de produção.
8. David A. Garvin
O próximo da lista vem da cidade de Nova York (EUA) e é formado pela Harvard Business School.
Um profissional influente e autor prolífico, Garvin publicou 10 livros, 37 artigos e desenvolveu mais de 70 estudos de caso durante toda sua carreira.
Seu artigo “Quality on the line” (1983), ganhou grande destaque na mídia por expor o fato de que as empresas japonesas – já recuperadas e aperfeiçoadas depois da guerra – apresentavam índices de erros mais de mil vezes menores em comparação com a indústria americana.
Cinco anos depois, ele publicaria seu livro “Managing Quality”, onde apresentou pela primeira vez seu conceito das Oito Dimensões da Qualidade.
9. Vicente Falconi
O primeiro brasileiro desta lista é nascido na cidade de Niterói (RJ), formado em engenharia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e PhD pela Colorado School of Mines (EUA).
Falconi atuou por quase três décadas como docente da UFMG, chegando a receber o título de professor emérito da instituição.
Paralelo a isso, foi um dos responsáveis por trazer o conceito da Qualidade Total para as indústrias brasileiras, em um trabalho executado em convênio com a JUSE e patrocinado pelo governo federal.
10. Shigeo Shingo
De origem japonesa, Shigeo Shingo foi um engenheiro industrial que ficou conhecido como um dos pais do Toyotismo – junto com Taiichi Ohno (o 12º da nossa lista).
Ele começou sua vida profissional como técnico ferroviário, em Taiwan.
Com o fim da guerra, foi realocado para Tóquio e assumiu como consultor da Japan Management Association sobre questões de melhoria na gestão industrial.
Por conta do Sistema Toyota e da filosofia Lean, Shingo talvez seja mais conhecido no Ocidente do que em seu país de origem.
Prova disso é o fato de que, em 1988, a Universidade de Utah (EUA) decidiu homenageá-lo com a criação do Shingo Prize for Operational Excellence, um reconhecimento para profissionais proeminentes da área da qualidade.
11. Frederick Taylor
Taylor nasceu na Filadélfia do século XIX e foi um engenheiro mecânico que dedicou o trabalho de sua vida a melhorar a eficiência nas indústrias.
Em 1911, ele publicou sua obra mais famosa – Os Princípios da Administração Científica –, onde propõe a utilização de métodos cartesianos para trazer mais exatidão aos processos de gestão.
Suas contribuições para o campo fizeram com que Taylor ficasse conhecido como pai da engenharia industrial e da administração científica.
Conhecida como Taylorismo, sua teoria de gestão científica segue quatro princípios básicos:
- A substituição do “achismo” por dados científicos
- O treinamento detalhado dos funcionários
- O fornecimento de feedbacks durante a execução das tarefas
- A divisão igualitária de trabalho entre gestores e operários.
12. Taiichi Ohno
Nascido em Daillan, território chinês na época sob ocupação japonesa, Ohno foi um engenheiro mecânico formado pela Escola Técnica de Nagoya.
Aos 20 anos de idade ele começou a trabalhar na Toyota, empresa que seria revolucionada por suas ferramentas de gestão e controle da qualidade poucos anos depois.
Junto de Shigeo Shingo, Ohno foi um dos idealizadores do Sistema Toyota de Produção.
Ele dividia as atividades realizadas entre trabalho e movimento.
Enquanto a primeira categoria é reservada para aquelas atividades que vão gerar valor para o cliente, a segunda diz respeito a todas as tarefas que, ainda que necessárias, não agregam valor para o consumidor final.
Dentro de sua lógica, tudo que era apenas “movimento” representava um trabalho desnecessário e, portanto, um desperdício que deveria ser eliminado.
O Sistema Kanban também tem sua criação creditada a Taiichi Ohno.
13. Ademir Petenate
De volta ao Brasil, o prof. Petenate é um dos principais nomes na área da qualidade no Brasil. É PhD em estatística pela Iowa State University em 1983 e professor do Departamento de Estatística de Unicamp desde 1983.
Foi idealizar do primeiro mestrado profissional da qualidade na década de 1990 e criador e coordenador dos programas de Lean Six-Sigma da Unicamp no começo dos anos 2000.
É fundador e diretor da EDTI, tendo formado mais de 2.000 Green Belts e Black Belts e coordenado centenas de projetos de melhoria em organizações como Microsoft, Itau, Unimed, IHI entre outros.
Outros Autores Importantes do Setor
Além dos gurus da qualidade já citados, estes também merecem uma menção mais do que honrosa:
- Christian Grönroos
- Masaaki Imai
- Roger Pressman
- Valarie Zeithaml
- Avedis Donabedian
- Noriaki Kano
- A. Parasuraman
- Leonard Berry
- Claes Fornell
- William Ouchi
- John S. Oakland.
Conclusão
A evolução tecnológica trouxe novas técnicas que aceleraram e melhoraram os índices de produtividade de empresas do mundo todo.
Na manufatura, os fabricantes precisaram se adaptar para agradar um novo tipo de cliente, cada vez mais exigente e criterioso na hora de escolher entre uma marca e outra.
Isso porque ficou cada vez maior o número de fabricantes vendendo produtos similares no mercado.
Assim, estava inaugurada uma nova era da produção, onde observar a qualidade das entregas não era mais um diferencial, mas pré-requisito para a empresa manter sua competitividade.
Todas essas mudanças têm causa e consequência nas duas grandes guerras mundiais.
Grandes indústrias mundiais haviam se envolvido na produção armamentista e, com o tratado de paz, resistiram as estruturas prontas para produzir em larga escala.
Ao mesmo tempo, países como Japão, Alemanha e Polônia encontravam-se arrasados e precisavam de métodos para alavancar suas economias em tempo recorde.
De lá pra cá, a área da qualidade se consolidou como uma forma de garantir uma melhoria contínua nos processos para satisfazer e fidelizar o cliente.
Os autores que falam sobre o tema são vários.
E a tendência é que esse número aumente cada vez mais, ao passo que a filosofia é aplicada também em outras áreas, como marketing, recursos humanos e tecnologia da informação.
Agora que você já conhece os principais gurus da qualidade, está pronto para embarcar nesta jornada e investir você também em uma formação nesta área tão importante nos dias de hoje.
Para isso, visite o site da Escola EDTI, conheça os cursos e, se desejar, faça contato conosco.
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