Faz parte da natureza humana sempre estar preparado para eventuais períodos de crise, nós precisamos nos sentir seguros. Essa é uma de nossas necessidades básicas e esse comportamento não é novidade.
Historicamente desde quando começamos o cultivo de alimentos sempre houve uma preocupação de plantar mais que o necessário para não sofrermos em momentos difíceis ou de crise.
Apesar de toda evolução da raça humana carregamos esse “instinto” até hoje, geralmente compramos mais do que o necessário quando vamos ao supermercado, procuramos fazer estoques, aproveitar um preço baixo sempre para preencher essa necessidade de segurança.
Esse comportamento não é exclusividade de nossa vida pessoal, acabamos por levar esse valor para dentro das organizações.
Queremos garantir dentro dos nossos setores que não nos falte material de trabalho como, caneta, folhas de papel, clipes, etc.
Assim para nos protegermos, pensamos nos diversos problemas que podem impactar o processo de compras e toda experiência que já tivemos com isso ou mesmo para compensar nossa falta de planejamento na hora de realizar os pedidos acabamos por solicitar mais do que realmente precisamos criando nossos próprios estoques.
Como podemos imaginar que uma organização não seja afetada por esse tipo de comportamento, já que as empresas são feitas por pessoas.
Preocupações comuns
- Como podemos garantir o atendimento ao cliente?
- Como saber se o fornecedor não vai nos deixar na mão?
- O que fazer para não interrompermos a linha de produção?
Geralmente as soluções propostas que comumente encontramos são aumentar a produção, aumentar os estoques ou aumentar o número de pessoas, sempre em prol do conforto e segurança.
- Realmente, porém, esse é o melhor para empresa? Qual é o custo de toda essa segurança?
As empresas que agem dessa forma acabam por ficar engessadas, pouco responsivas e tem comprometidas sua capacidade de investimento.
Tudo isso devido a esse comportamento que acaba por gerar uma enorme quantidade de desperdícios. Para superar essa mentalidade temos que fazer o que Taiichi Ohno, um dos pais do Sistema Toyota de Produção, chamou de revolução da consciência, onde a sociedade industrial precisa desenvolver a coragem de buscar apenas o necessário, quando necessário e na quantidade necessária.
Para isso Ohno elencou sete desperdícios que são encontrados dentro das organizações e que devem ser combatidos. Reduzindo esses desperdícios teremos grandes ganhos na redução do lead time, trazendo junto redução do custo e mais flexibilidade à essas organizações.
Vamos falar um pouco de cada um desses desperdícios:
Superprodução
Podemos chamar de mãe de todos os desperdícios, já que causa ou agrava todos os outros. Nada mais é do que produzir mais cedo ou em maiores quantidades do que o nosso cliente é capaz de absorver.
Espera
Quando um colaborador fica esperando a próxima etapa do processamento, uma ferramenta, peça ou ainda por falta de estoque, gargalos, ou mesmo ainda na utilização de colaboradores apenas para vigiar um equipamento trabalhando.
Transporte
Sempre que for necessário mover peças, matérias primas ou produtos acabados, mesmo que em curtas distâncias. Como o transporte de produtos para uma área de estoque.
Excesso de processamento
Entregar mais que o solicitado, ou seja empregar esforços e atividades que geram mais qualidade do que o necessário, não sendo percebidas como valor pelo cliente, como realização de testes desnecessários em um paciente.
Estoque
O mais clássicos dos desperdícios, pode ser em forma de matéria prima, WIP ou produto acabado. O aumento de estoque pode ocultar problemas de balanceamento de produção, obsolescência e produtos danificados.
Movimentação
Relacionado aos movimentos dos funcionários durante a execução das atividades, como buscar ferramentas, peças, etc, ou mesmo o deslocamento entre as etapas de cada atividade.
Defeitos
A produção de defeitos gera retrabalhos e consertos. Simplesmente é um desperdício de tempo, matéria prima e mão de obra. Podemos citar como defeitos um diagnóstico errado na área da saúde, um prato entregue erroneamente em um restaurante ou um produto fora da especificação.
Além desses 7 desperdícios hoje fala-se muito do desperdício do capital humano, também chamado de desperdício intelectual, quando não aproveitamos todo potencial de um profissional qualificado colocando para executar serviços aquém de suas capacidades.
Muitas vezes esses desperdícios não estão claros ou acabando passando despercebidos durante nossas rotinas. Quando olhamos uma empresa e vemos as pessoas apressadas a caminhar pela fábrica podemos considerar que elas estão trabalhando, quando na verdade essa movimentação de pessoas é apenas mais um desperdício que deve ser combatido.
A eliminação desses desperdícios pode aumentar significativamente a eficiência de produção, por isso devemos produzir apenas o necessário, já que a redução de custo está intimamente relacionada com redução de desperdícios e aumento de eficiência.